Obra: A Tormenta (trad. Fátima Vieira)
Autor: William Shakespeare
Professora: Fátima Vieira
"Na Tormenta de Shakespeare, Prospero, Duque de Milão,é deposto pelo seu irmão e exilado numa ilha mas, com a ajuda de um amigo, consegue levar com ele a sua amada biblioteca.
Prospero, como o seu criador, vivia num tempo em que as fronteiras entre as diversas áreas do saber não eram tão rígidas como são hoje. Os livros de Prospero teriam abordado o cosmos - espiritual e material, interno e externo - como um todo.
Prospero era um Hermético, provavelmente tendo como modelo o mago inglês John Dee. Como o autor anónimo autor das Meditações sobre o Tarot escreveu, a demanda dos Herméticos era "a alma comum da religião, ciência e arte."
A magia dos livros de Prospero é o conhecimento dohólos, em que todas as áreas do conhecimento humano se intersetam e complementam (ciência, técnica, estética, religião, etc.). Para o olhar do sábio do final de seiscentos, existiria um grau supremo de iluminação que lhe permitiria compreender, relacionar e, no limite, comandar todos os fenómenos naturais. Apesar de toda a fragmentação do conhecimento, da evolução da tecnologia, da tomada de consciência dos limites do conhecimento humano expostos pela epistemologia e por várias críticas políticas e relativistas, ainda encontramos ecos desta velha aspiração, por exemplo, na demanda da Teoria da Grande Unificação, que permitiria usar o mesmo "modelo geral" para descrever todos os fenómenos físicos, desde o infinitamente pequeno ao infinitamente grande. A própria nomeação do furtivo bosão de Higgs como "partícula de Deus" é uma evidência dos velhos ecos da referida aspiração.
Prospero e Caliban, uma leitura política
É comummente aceite a influência da leitura por Shakespeare de «Des Cannibales» (Michel de Montaigne, Essais, XXXI, I) na construção das personagens autóctones da ilha, particularmente na de Caliban. Já foi suficiente apontado que o próprio nome de Caliban é um anagrama de Canibal, embora o termo na época se referisse não especificamente à antropofagia mas mais a condição de selvagem, ou "homem natural", mais perto do comportamento animal do que do reconhecido como civilizado. A leitura de Shakespeare não é tão idealista como a de Montaigne que considera o selvagem como "mais puro" mas, ao mesmo tempo, deixa em aberto uma visão de Caliban que oscila entre a besta cujo comportamento apenas obedece aos seus impulsos e o ingénuo que é facilmente manipulável através do logro e do álcool. Ao mesmo tempo, Shakespeare faz uma crítica mordaz da apropriação da ilha que seria "por direito natural" de Caliban, e da prepotência de Prospero que explora o infeliz com a ameaça da utilização das suas artes. Curioso também um anagrama possível de Prospero: Oppressor. Estamos claramente perante todo um leque de possíveis leituras que podem analisar o fenómeno da colonização e da exploração do indígena.
Olá Como sabes os livros são dos mais silenciosos companheiros que o Homem pode ter.E nem sempre gritam para que sejam lidos! Este é também mais um, no meu caso com a agravante de o não ter. Não recordo se vi o filme de P.Greenaway e certamente seria uma leitura outra (decerto bem mais estranha,face à 'personagem que é,este tipo', mas das ppalavras atrás,nomeadamente da 'leitura política',acabo sempre pensando,que a sabedoria não está propriamente nos livros (sei que se aprende muito com eles!) mas na distância que tem de existir entre quem lê o que se lê:como entender-pergunta retórica,sei!-que alguém/personagem exilado numa ilha,tendo por companhia a sua sagrada biblioteca,supostamente com uma arca da sabedoria,e mesmo assim não prescinda da fatal? opressão sobre outros? Uma fatalidade intrinsecamente humana?
Olá
ResponderEliminarComo sabes os livros são dos mais silenciosos companheiros que o Homem pode ter.E nem sempre gritam para que sejam lidos! Este é também mais um, no meu caso com a agravante de o não ter.
Não recordo se vi o filme de P.Greenaway e certamente seria uma leitura outra (decerto bem mais estranha,face à 'personagem que é,este tipo', mas das ppalavras atrás,nomeadamente da 'leitura política',acabo sempre pensando,que a sabedoria não está propriamente nos livros (sei que se aprende muito com eles!) mas na distância que tem de existir entre quem lê o que se lê:como entender-pergunta retórica,sei!-que alguém/personagem exilado numa ilha,tendo por companhia a sua sagrada biblioteca,supostamente com uma arca da sabedoria,e mesmo assim não prescinda da fatal? opressão sobre outros?
Uma fatalidade intrinsecamente humana?
Abraço
Carlos