quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A Viagem

Convocando um sentido para a terceira edição do curso livre Grandes Livros, Grandes Obras, escolheu-se a temática da viagem (das viagens?), construindo um fio condutor entre as múltiplas leituras, intertextualidades, épocas, sensibilidades, genealogias e outras pontes da palavra escrita que também é, na sua essência, "a viagem".

Estado de locomoção 

Repito que vivo enclausurado na agilidade de um animal nascido
Correndo ao lado dele, correndo para ele - era assim
Que eu queria que fosse a linguagem veloz:
Uma casa para a infância com trepadeiras
Para que as palavras ficassem como frutos no alto. 
Repito a corrida na memória quando estou parado
Penso velozmente que o amor, como Dante disse, é um estado
De locomoção. É um motor. E fico a trabalhar no mecanismo secreto
Do amor. 
Sei que estou em viagem na palavra que se move. 
Repito o trajecto para ver o poema de novo - era assim
Que eu queria que fosse a linguagem de uma coisa amada
Correndo ao meu lado, correndo para mim no mecanismo violento
Do amor. Era nele que eu queria a casa com trepadeiras
Onde as palavras ficassem silenciosas e altas com um pátio interior.

Daniel Faria in Homens que são como lugares mal situados 1ª ed. Porto, Fundação Manuel de Leão 1998

Daniel Faria nasceu em Baltar, Paredes, no dia 10 de Abril de 1971. Licenciado em Teologia e em Estudos Portugueses, faleceu com apenas 28 anos, a 9 de Junho de 1999, quando era noviço no Mosteiro de Singeverga. Estreou-se em 1992, com um pequeno volume intitulado Oxálida. Recebeu vários prémios literários relativos a inéditos de poesia e conto. Colaborou nas revistas Atrium, Humanística e Teologia, Via Spiritus, e Limiar. A sua obra poética encontra-se reunida num volume editado, em Novembro de 2003, pelas Quasi Edições.


"Verba volant, scripta manent"

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